Friday, December 29, 2006

A MÃO VÊ

«Aceito mal o que em arte se designa por inovador. Deverá uma obra ser entendida pelas gerações futuras? Porque? Que quererá isso dizer? Que elas poderão utilizá-la? Em quê? Não vejo bem. Já vejo melhor – ainda que muito obscuramente – toda a obra de arte que pretenda atinir os mais altos desígnios deve, com paciência e uma infinita aplicação desde inicio, recuar milénios e juntar-se, se possível, à imemorial noite povoada pelos mortos que irão reconhecer-se nessa obra.»

«Nenhum rosto vivo facilmente se revela, e contudo basta um pequeno esforço para descobrir-lhe o significado. Penso – arrisco eu -, penso que o importante é isolá-lo. Só quando o meu olhar o destaca de tudo em redor, só quando o meu olhar (a minha
atenção) impede esse rosto de se confundir com o resto do do mundo evadindo-se numa infinitude de significações cada vez mais vagas, exteriores a si, ou quando, pelo contrário, obtenho a necessária solidão pela qual o meu olhar o recorta do mundo, então somente o significado desse rosto – pessoa, ser ou fenómeno – afluirá, condensando-se. Quero eu dizer, o conhecimento de um rosto, a pretender-se estético, tem que refutar a história.
Para analisar um quadro são precisos maior esforço e uma complexa operação. Foi realmente o pintor – ou o escultor - quem por nós realizou essa dita operação. Assim nos é restituida a solidão do personagemou objecto representados e nós, que olhamos, para a compreendermos e sermos por ela tocados, devemos ter experiência não da continuidade, mas sim da descontinuidade do espaço.»
«Cada objecto cria o seu espaço infinito.»
«Como disse, se olho um quadro, percebo-o na sua absoluta solidão de objecto enquanto quadro. Mas isso não me preocupa. O que interessa é o que a tela deve representar. Aquilo que eu pretendo decifrar ness solidão é simultaneamente a imagem sobre a tela e o objecto real por ela representado. Terei primeiro que tentar isolar o quadro do seu significado de objecto (tela, moldura, etc.), a fim de subtraí-lo à imensa família da pintura ( mesmo que o devolva mais tarde) e a imagem sobre a tela estabelecer ligações com a minha experiência do espaço, com o meu conhecimento da solidão dos objectos, dos seres e dos acontecimentos.»


«Os meus dedos repetem o percurso dos de Giacometti, mas enquanto os dele procuravam apoio no gesso húmido e no barro, os meus retomam-lhe os passos com segurança. E – afinal! – a mão vive, a mão vê.»
«As estátuas não só cminham ao vosso encontro como se estivessem muito longe, ao fundo, num horizonte extremamente afastado, mas também, e onde quer que vos situais relativamente a elas, fazem com que ao olhá-las estejais sempre num plano inferior. Estão lá longe no horizonte, sobre uma elevação, e vós no sopé. E vêm ter convosco, sequiosas desse encontro e de vos ultrapassarem.»

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